O que eu queria mesmo era ficar.
Adoro viajar. Gosto mesmo. Mas quem não gosta? Conhecer novas pessoas, novos locais, novas histórias e costumes... É tão bom, enriquece-nos , torna-nos mais belos.
Espero viver muitos anos para que possa viajar tanto quanto a vida me deixar. Espero mesmo ter o privilégio de conhecer os mais variados cantos do mundo.
No entanto, o que eu gostava mesmo, do fundo do coração, era ter a oportunidade de continuar no meu país.
Custa-me colocar a possibilidade de voar para fora daqui de forma permanente. Porque gosto mesmo de nós. De nós, portugueses. De nós e de tudo o que nos rodeia.
Gostava ainda de ter os meus amigos e família comigo. Custa-me vê-los partir. Eu sei que é em busca de uma vida melhor, sei que o nosso país, aquele que é o nosso berço, há muito que deixou de nos proporcionar o que merecemos.
E tanto que nós merecíamos. E tanto que temos o direito de querer ficar.
Mas e se eu não conseguir? E se, por força das circunstâncias, for obrigada a partir? E se o país que tanto admiro me empurrar para fora? Se me der um chuto no rabo e me obrigar a fazer à vida longe daqui?
Eu espero que não. Espero que não porque, afinal de contas, parte dos meus sonhos passam por aqui. E como poderei ser feliz se parte dos meus sonhos ficarem em lista de espera, aguardando melhores tempos para voltar e retomá-los ?
Seria eu capaz de deixar o meu Ribatejo, que me viu nascer? Seria possível esquecer-me do Rio Tejo que abraça Santarém e que me vislumbra com as mais bonitas paisagens? Como poderia eu esquecer-me das portas do sol que me moldaram na infância?
Se esse dia chegar, como posso viver sabendo o tanto me falta descobrir do Porto que tanto me fascina? O Porto que sabe receber quem lá vai. Que aconchega as pessoas, que transmite a paz. O Porto que tem a ribeira e as francesinhas.
Se tiver que partir, deixarei para trás o belo Alentejo. Os campos e a natureza no seu estado mais puro. Como posso eu abandonar a pureza do meu país?
Como poderei ir e deixar para trás as praias do Algarve? Será que posso mesmo deixar de lado as caminhadas matinais na Armação de Pêra e o pôr-do-sol em Albufeira?
E as ilhas? A Madeira e os Açores que nunca visitei e que tanto anseio conhecer? Posso mesmo ir embora sem conhecer as ilhas mais bonitas do mundo?
Não posso mesmo. E mais que isso: não quero.
Não quero ter que prescindir do pastel de nata nem do cozido à portuguesa. Não quero deixar este clima nem perder os dias de sol. O sol que aqui é diferente. O sol que aqui também nos aquece a alma.
Caramba, nós somos um país que vale tanto a pena. Porque ninguém aposta em nós? Em nós, jovens, que temos o medo de ter que partir e, ao mesmo tempo, o sonho de ficar?
Terei eu que abdicar de pedir um ramo de salsa à minha vizinha, de esquecer as gargalhadas do senhor do quiosque que conhece todos os seus clientes, ou até deixar de ir às jantaradas e churrascadas onde todos acabam descalços?
Aqui somos mais belos, e por isso eu queria mesmo ficar.
Espero ficar.
Espero ficar porque tenho esse direito. E mereço. Mereço eu e todos os portugueses, porque só nós sabemos o quanto vale a pena o nosso país. Em suma, apenas nós compreendemos de que fibra somos feitos e a bonita maneira de sermos inigualáveis.
Afinal de contas, eu gosto mesmo de nós, portugueses. De verdade.