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Um dia faço um blog

E quando somos nós a andar para junto do precipício?

Convido-vos a ver com atenção esta curta-metragem, The Last Knit de Laura Neuvonem, e a tentarem compreender a mensagem que transmite.

 

"Diferente daqueles hábitos ou costumes que a maioria das pessoas tem, os comportamentos obsessivos são aqueles que aprisionam o indivíduo que, mesmo diante de grande sofrimento ou riscos evidentes, não consegue se libertar. A personagem no vídeo está claramente determinada a tricotar, sem parar, mesmo que isso lhe faça mal ou represente riscos contra sua própria vida.

É claro que o ato de tricotar surge como uma ilustração para outras situações que aprisionam (relacionamentos destrutivos, por exemplo) e também para pensamentos obsessivos."

 

No fundo, acredito que a grande maioria das pessoas já passou por algo deste género. Quer seja numa relação ou até mesmo num emprego. As pessoas têm tendência a alimentar situações que não lhes trazem benefício algum, mas muitas vezes não conseguem cortar o mal pela raíz. Quanto mais as alimentam, mais difícil é cortar com elas. É preciso muita força de vontade.

 

fonte: psicologiaacessivel.net

A vacina em atraso.

Tenho que confessar: já devia ter levado a vacina do tétano. Não digo aqui exatamente quando a devia ter tomado porque chega a ser vergonhoso.

Tudo isto tem uma explicação. Desde criança que tenho pavor de agulhas. Desmaio mesmo. Começo a panicar só de pensar. Na última vez que tive que ir ao hospital (que deve ter sido a segunda vez em toda a minha vida) ia morrendo. Não morrendo do motivo pelo qual lá fui, mas sim pelo facto de me quererem tirar sangue. Sacanas, ainda por cima enganaram-me! Expliquei ao enfermeiro que tinha um medo horrível de agulhas...ele lá espetou com um spray manhoso qualquer que dizia ser para eu não sentir nada. Sinceramente não me lembro se senti, até porque segundos depois todo o mundo girava das tonturas com que fiquei. No entanto, mais tarde descobri que esse spray não tinha qualquer tipo de finalidade e que não era nada mais, nada menos, do que água! Pois, já nem nos enfermeiros se pode confiar...um terror.

Bom, estava eu a contar que tenho a vacina em atraso já há algum tempo. A minha irmã diz que me vai arrastar pelos cabelos sem falta este verão para tomar a maldita vacina do tétano. Ela está a estudar enfermagem e está-se a sair uma bela de uma carniceira.

As minhas pernas já tremem só de pensar. Eu sei que tenho que vencer este medo, eu sei. Quando chegar o dia espero pelo menos não cair redonda para o lado...seria ligeiramente humilhante e a modos que queria parecer uma adulta que vai simplesmente levar uma vacina. Veremos.

A sensação de dever cumprido.

Já vos tinha falado da J.

Acompanho-a desde Setembro e tenho sessões com ela todas as semanas. Este é um voluntariado especial. Cada tutor da instituição fica responsável pelo acompanhamento de uma criança ao longo de um ano. Ao longo desse ano espera-se 1h30 por semana de dedicação a essa criança. Apesar da parte escolar ser de extrema importância, estas crianças precisam de mais que isso... precisam de atenção e de trabalhar o seu lado emocional e comportamental. Infelizmente algumas delas não têm o suporte essencial da família. E é aqui que entramos nós. Nós e uma equipa de pessoas enorme que se disponibiliza para ajudar um grande número de crianças.

Apesar de cada voluntário ficar responsável por uma criança, há todo um conjunto de pessoas que faz com que tudo funcione. Temos várias formações ao longo dos meses, bem como apoio da psicóloga e professores da escola. Acho muito bonito a forma como tanta gente se empenha sem esperar nada em troca e como se esforça de verdade pelo futuro. Porque é disso que se trata. Estas crianças são o nosso futuro, haverá algo melhor em que apostar do que no futuro? Se estas crianças se perderem, perde-se uma boa parte do nosso futuro.

Esta semana terminaram as sessões com a J. Sinto que ela me deu mais do que eu a ela. É tão gratificante e ao mesmo tempo parece que ficou tanto por fazer. Antes de dar por terminadas as tutorias, tomei todas as providências que achei desnecessárias face ao que me foi mostrado ao longo do ano e rezo a todos os santinhos para que esta menina não se perca e que vá além daquilo que a família não lhe transmite.

Conheci uma criança muito insegura e com falta de amor próprio. Sou da opinião que a confiança e valorização por nós próprios faz milagres. Tentei trabalhar com ela o que consegui nesse sentido. Mas sinto que ficou a faltar alguma coisa. Infelizmente sei que não depende de mim.

Acima de tudo termino este ano com o coração cheio e uma lágrima ao canto do olho. Há coisas que nos entregamos de alma e coração e esta foi uma delas. Emociono-me por saber que esta criança criou comigo ao longo deste ano um laço forte ao ponto de partilhar as suas inseguranças e os seus medos, o seu dia-a-dia e os seus sonhos. Sei que a J. me contou mais do que alguma vez contou à sua psicóloga.

Esta menina deu-me muito mais do que eu esperei que alguma vez uma criança pudesse dar. E tanto que nos rimos juntas. E também chorámos. Rimos dos nossos erros e partilhámos os nossos segredos. Fizemos a árvore dos sonhos e escrevemos juntas nas folhas que pintámos para pendurar na árvore gigante que desenhamos na cartolina. Falámos da nossa família e dos nossos gatos. Estudámos e prometemos uma à outra terminar este ano lectivo com sucesso: ela o 4º ano e eu a licenciatura. Completámos todas as páginas do boletim do sucesso que iniciámos no início do ano. Cumprimos o certificado de compromisso que assinámos em Setembro. Contámos anedotas, muitas anedotas, e percebemos que ambas nos rimos das piadas mais secas. Ela contou-me todos os detalhes da Violetta e eu falava-lhe dos livros que ia lendo. Partilhamos silêncio quando achávamos necessário. Acho que ela é a criança que conheço que melhor compreende o silêncio.

É tão boa a sensação de dever cumprido.

A J. é a representação da esperança. E tanto que eu tenho esperança que ela não se perca. Espero mesmo. No fundo, espero que a infância injusta que teve não se venha a refletir na sua vida adulta.

Despedi-me dela pedindo-lhe para nunca se esquecer de lutar até ao fim pelo que quer. E eu sei que ela quer feliz, ela dizia-o muitas vezes. E é isso que espero do fundo do coração,que seja muito feliz.