A ignorância das massas.
Quero falar-vos acerca do enorme escândalo a propósito da jovem que foi parar ao hospital em coma alcoólico devido à praxe que estava a ser realizada na praia.
O drama feito em torno disto desperta em mim um sentimento de vergonha alheia.
Comentários como "(...) é por a praxe ser permitida que isto acontece" , "bem feita, para a próxima já pensam duas vezes antes de aceitarem ser praxados" ou "devia acontecer o mesmo aos outros todos para pensarem duas vezes antes de aderirem as estas imbecilidades" não são aceitáveis, são só ridículos. Sim, comentários absolutamente ridículos.
E agora, antes que me digam que estou apenas a dizer isto porque andei a levar calduços dos veteranos e fazer os caloiros comer terra quando fui praxista, deixem-me esclarecer já que estão enganados. Como já havia dito aqui anteriormente, aceitei participar nas praxes quando entrei na faculdade. Aceitei porque sou da opinião que apenas depois de experimentar podemos dar a nossa opinião de forma mais sustentada e apenas depois podemos declarar-nos a favor ou contra. Ora, fui praxada e consigo lembrar-me de inúmeros aspetos positivos e outros muito negativos. Quais foram esses aspetos que mais e menos gostei posso contar-vos um dia mais tarde. Importa sim dizer que no ano seguinte podia praxar e que desisti no primeiro dia. Desisti porque não me revejo na maioria das atividades que foram realizadas, não acho que tenha o direito de gritar a alguém, que o mande olhar para o chão durante horas nem tão pouco consigo entender os jogos de poder e hierarquia entre trajado e caloiro. Para mim não faz sentido e por isso desisti dessa componente académica.
Agora voltando ao caso da rapariga que foi parar ao hospital em coma alcoólico, e depois de vos ter explicado que a minha opinião não resulta em nada do meu lado defensor das praxes, quem é que não consegue perceber que TODOS os dias há jovens que bebem demais e, infelizmente, TODOS os dias há pessoal que passa das marcas e que vai parar ao hospital em coma alcoólico?
Não faz sentido atribuir a culpa de tudo à praxe. Meus amigos e minhas amigas, estamos a falar de adultos! Ou pelo menos julgamos que têm capacidade mental suficiente para decidirem se querem ou não fazer o que lhes mandam. Por incrível que pareça, e por mais que custe aos meios de comunicação social aceitar porque que vendem bem melhor quando na capa diz JOVEM MORRE DEVIDO A PRAXE, todas as pessoas que participam em atividades académicas deste calibre NÃO SÃO obrigadas a absolutamente nada. Parece impossível mas todo eles são dotados de livre arbítrio. Incrível, não é?
Por isso vamos lá deixar de ser tontos. Afinal de contas, a esta hora devem já estar uns quantos bem quentinhos a preparem-se para uma noite no urban e outros quantos já em pré-coma alcoólico no bairro alto. E adivinhem? Isto acontece todos os dias, a qualquer altura do ano e (podem sentar-se, que esta é forte) a culpa não é da praxe.