A ponta do iceberg - Os Naufrágios no Mediterrâneo.
Há três anos, quando entrei no curso que estou neste momento a frequentar, recordo-me que uma das minhas professoras, numa das suas primeiras aulas, contou-nos acerca dos naufrágios no Mediterrâneo.
Como assim? Há três anos?
Pois, passaram três anos desde que encarei esta realidade mas os naufrágios já acontecem há muito mais tempo. E são recorrentes. E morrem milhares e milhares de pessoas todos os anos.
Questionei-me na altura como seria possível ninguém falar nisto. Como seria possível que apenas meia dúzia de pessoas soubessem o que se passava?
Agora não se fala noutra coisa. Como se tivessem descoberto a pólvora. Como se fosse a primeira vez que isto acontece.
A questão aqui, e talvez a mais gravosa de todas, é que estes casos têm vindo a ser abafados. E desta vez algo deve ter corrido de forma diferente para terminar neste mediatismo.
É tão triste perceber que nós só vemos aquilo que nos mostram e que damos como certo o que nos tentam convencer.
Estas embarcações não estão apenas repletas de gente clandestina, tal como a comunicação social tanto gosta de proclamar. Trazem seres humanos que largam tudo pela esperança de uma vida melhor. São seres humanos que morrem frequentemente todos os anos, sem que ninguém saiba de nada. São pessoas que, cansadas da miséria em que vivem, arriscam morrer em nome de sonhos. Sonhos! Os sonhos destas pessoas não são ter uma casa com piscina nem passar uma temporada nas Maldivas. Estas pessoas só querem deixar de sobreviver, porque é exatamente isso que acontecia nos seus locais de origem. Apenas sobreviviam, e isso é mesmo desumano. Preferem morrer a continuar a sobreviver.
E isso sim, é a real coragem do ser humano. Arriscar a própria vida em nome da esperança.
E que direito temos nós de chamar clandestinos a seres humanos que apenas se agarram à esperança de concretizar um sonho?