E quando a vida nos troca as voltas?
Como alguns de vós devem saber, até porque já o disse aqui, estou a terminar a licenciatura em antropologia. Não houve nenhuma espécie de chamamento divino para este curso nem tão pouco morro de amores pelos professores e organização da minha faculdade e do departamento.
Mas há algo que é incontornável: a antropologia mudou a minha maneira de olhar para o mundo. E isso sei que não encontraria em nenhum outro curso. Infelizmente não me vejo a construir uma carreira sólida nesta área e cheguei a uma fase em que as minhas aspirações parecem ter mudado.
Antes de mais, a antropologia construiu-me enquanto pessoa. Nunca, em tempo algum, pensei que três anos de um curso que aparentemente era tão mais teórico do que prático, me trouxesse tantos contributos para a vida. A minha maneira de olhar para o mundo modificou-me como pessoa.
No entanto, cada vez mais os meus horizontes vão para outros rumos. Sinto-me muito mais ligada a outras áreas, o que me deixa um pouco confusa.
Seja qual for o caminho a seguir, tenho sempre presente que a antropologia irá manifestar-se em cada trabalho que tiver, seja em que área for, e que me irá acompanhar para a vida.
No fundo, e por muito que reclame e resmungue por estar num curso que se revelou pouco prático,mal estruturado e com poucas perspectivas de emprego, sei que a antropologia é o curso da minha vida.
Apesar desta relação de amor-ódio, esta licenciatura trouxe-me ensinamentos que, apesar de não serem aplicáveis em muitos dos empregos em que me revejo, tenho a certeza que serão úteis na relação com as pessoas. Porque é disso que a antropologia trata. De pessoas. É um curso de pessoas, feito para pessoas. E vivemos num mundo em que é tão comum mecanizar tudo e todos, que nos esquecemos que somos um mundo de pessoas.
A vida trocou-me as voltas. Não me vejo a trabalhar na área da antropologia. A vida trocou-me as voltas de uma maneira tão forte que, apesar de não me rever nesta área, tenho a certeza que foi esta área que me encaminhou para outros caminhos e que moldou parte da minha personalidade.
Acredito que tudo acontece por um motivo. Por vezes sinto-me revoltada com o curso e penso que perdi anos da minha vida em algo que se revelou completamente diferente do que julgava ser. Mas depois, nos momentos mais simples do meu dia-a-dia, percebo que não foi de todo uma perda de tempo. Estes anos, este curso e os ensinamentos que aparentemente pareciam inúteis, revelaram-se no meu maior trunfo para lidar com o mundo.
Depois disto, sinto que estou preparada para encarar o que for preciso.
Apesar da antropologia me ter cuspido para fora desta área, foi também ela que me mostrou os caminhos possíveis. Porque a antropologia é mesmo assim. É uma ciência que nunca dá nada como certo, mas que abre horizontes e, acima de tudo, mentalidades. E tanto que adoro a antropologia pelo simples facto de me mudar a mentalidade e me ter tornado numa pessoa melhor.