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Um dia faço um blog

Hoje um homem morreu à minha frente.

Escrevo-vos ainda sem saber ao certo como exprimir o que estou a sentir . Hoje, numa zona que costumo frequentar, aconteceu um acidente. Um daqueles feios e que não deixam ninguém indiferente. Pelo menos a mim não deixou.

É tão comum cruzar-me diariamente com acidentes. Muitos deles gravíssimos. É tão comum ouvir o som das sirenes e ver ambulâncias a grande velocidade para salvar mais vidas. É tão comum assistir a todo este aparato que acabou por se tornar banal.

O acidente que assisti hoje foi um acidente em cadeia. Seis carros envolvidos. Em pleno centro de Lisboa e, ao que tudo indica, um condutor decide descer uma rua a uma velocidade acima dos 100 km/h , numa zona em que o máximo de velocidade é 50km/h.

acidente.jpg

 Imagem de um dos carros. Retirada daqui.

 

Uma das pessoas envolvidas morreu. Vi-o a morrer, mesmo à minha frente. Tentaram reanimá-lo em vão e eu assisti ao esforço dos profissionais de saúde para salvar aquele homem. Vi o esforço que fizeram para o tentar salvar e assisti ao exato momento em que o declararam como morto. Aquele homem não havia sido o condutor responsável pelo acidente. 

Para dizer a verdade, não queria mesmo ter assistido. Queria ter seguido em frente, como costumo fazer quando passo por situações assim. Mas desta vez não podia. Estava ali parada, pelo menos até o trânsito ser descongestionado e ter a possibilidade de passar para o outro lado da estrada. Então esperei e vi o aparato. Não tinha outro remédio. Ou então podia simplesmente tentar ignorar, fechar os olhos e distrair-me do que se passava...mas era impossível.

Muitas pessoas a assistir e a tirar fotografias. Os bombeiros e profissionais de saúde carregavam expressões de esforço e dedicação.

Uma senhora comentava que o responsável pelo acidente era um jovem. Comentava um senhor que "pois claro que só podia ser um jovem, para não ter amor à vida...só podia".

Para não ter amor à vida só podia ser um jovem? A sério que há pessoas que ainda têm este tipo de pensamento? Eu, que sou jovem, tenho muito amor à vida. Tenho muito cuidado quando vou na estrada, respeito a minha vida e respeito a vida dos outros.

Neste caso, o condutor foi extremamente irresponsável e terá que carregar para toda a vida o peso de ser o responsável pela morte de uma pessoa.

O que me choca, aquilo que me tocou e que me deixou a pensar, é o quanto a morte na estrada está banalizada . É tão recorrente que as pessoas já acham normal.

É a vida, costumam dizer.

É a vida? É a vida morrer tanta gente por estupidez alheia? É a vida e por isso o que temos a fazer é deixar andar e deixar que isto continue a acontecer?

Quantas mais pessoas têm que morrer à custa de erros de outros que não têm consciência da responsabilidade que é andar na estrada?

Este homem morreu à minha frente e eu só consigo pensar que provavelmente era pai, irmão e amigo de alguém. Hoje uma família recebeu uma das notícias mais tristes das suas vidas. Hoje uma família sentiu a dor da revolta de perder alguém que amavam e que morreu hoje por irresponsabilidade de outra pessoa.

Não podemos deixar que isto se torne banal. Não podemos deixar que seja banal ver acidentes graves, olhar e seguir em frente. Não podemos mesmo.

Hoje um homem morreu à minha frente. E eu só consigo pensar que uma vida se perdeu em vão e que uma família inteira ficou destroçada.

Quantas vidas mais serão necessárias?

Não, não é a vida. Ou pelo menos não deveria ser assim.

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