Loucos os que sentem.
E por isso eles fogem. Tolos. Fogem como se a sua vida dependesse disso. Fogem pelo medo de sentir. Ou talvez não seja medo. Talvez seja outra coisa qualquer que me recuso a querer saber. Talvez seja a ânsia de querer mais. Mais gente, companhia talvez, como eles, pobres de emoções, escravos do fingimento; mais vida, pensam eles. Talvez porque sentir lhes roube tempo. Idiotas.
Vivem inconscientemente aterrorizados com a ideia de sentir e por isso fogem. Na viagem, vão conhecendo mais deles, vazios, coitados, tão vazios que quase acredito que lhes falte a alma. Rasos de emoções e peritos na fuga.
Penso que no final do dia, quando são apenas eles, eles e os seus pensamentos, julgo que continuam a fugir. Fogem de pensar. Pensar muito é para parvos. E isso é que eles não são.
A dada altura creio que acabem por se cansar. Da corrida. Ou da companhia. A dada altura talvez se apercebam de quem são. Penso que no final da fuga, acabam por se aperceber que apenas fugiram deles mesmos. Depois, a corrida será para se tentarem encontrar. E depois, provavelmente, tentarão sentir. Mas não conseguem. Não conseguem porque estão desgastados daquilo que tanto se esforçaram para tentar ser.
Não sei o que farão depois. Talvez continuem a correr contra si mesmos, contra o tempo, contra a vontade quase incontrolável de sentir o que quer que seja. E correm, fogem que nem loucos, tentam ganhar mais. Ganham-se uns aos outros. Inocentes e burros. Ganham-se nas viagens que fazem contra eles próprios e com os iguais a eles.
Na meta talvez se apercebam do que perderam. Sim, certamente que no final o impacto seja suficientemente forte ao ponto de se arrependerem de não terem sido eles, não terem sido de ninguém, no fundo, não terem sido nada.