Voltemos à escrita.
É possível que o nosso olhar não se cruze mais.
Talvez esqueças a minha maneira de falar. Talvez esqueças a cor dos meus olhos e até não te recordes mais das músicas que ouvíamos juntos.
Podemos conhecer alguém. Alguém melhor, pensaremos nós, alguém diferente. Certamente que sim.
Podemos seguir o nosso caminho. Cada um o seu.
Poderei até acabar por me esquecer da tua gargalhada espontânea e do teu jeito engraçado de falar quando acordas.E tu, com certeza que poderás não te lembrar mais do meu cheiro nem da minha forma desajeitada de ser.
Talvez, quem sabe, acabe por deixar de ver o quanto são fascinantes os teus defeitos.
Tentaremos, provavelmente, esquecer a voz um do outro e dos sítios em que estivemos juntos.
Tentaremos, caso a vida siga rumos diferentes, apagar as confissões que um dia trocamos. Tentaremos ainda esquecer que um dia julgamos que poderia ser, eventualmente, para sempre.
Podemos esquecer-nos dos passeios fora de horas, e dos beijos dados na hora certa.
Quereremos esquecer-nos das vezes em que a despedida foi dolorosa.
No entanto, e mesmo que a memória nos falhe, ficará a certeza que um dia fomos felizes.
Se todos os detalhes forem esquecidos, ficará a certeza de que a felicidade passou por nós um dia. Mesmo que não nos lembremos como.
Escrevo isto para que não te esqueças. E talvez para que eu nunca me esqueça também. Mas é possível que aconteça.
Depois da nossa vida deixar de ser nossa, eu espero que não apagues a parte mais importante daquilo que vivemos. Espero que, mesmo que esqueças toda a nossa história, recordes o quanto foste feliz. Não precisas de te lembrar de mais nada.
Assim, e apesar de não ter sido para sempre, teremos a certeza que a memória nunca nos falhará para relembrar que um dia foi mesmo bom sentir que a felicidade passou por nós.